terça-feira, 15 de abril de 2008

Pão de Rala

Apesar da sua frequente inexactidão, os relatos que nos chegam através de lendas são, por norma, os mais saborosos e poéticos. E como aqui tratamos da poesia dos sabores e das memórias que fizeram, deixo-vos a lenda que explica aquele que, para muitos, é o doce conventual mais conseguido da doçaria portuguesa, o Pão de Rala!
Diz a lenda que durante o seu curto reinado, visitou Évora o jovem rei D.Sebastião, tendo-se acolhido às freiras Xabreganas do Convento de Santa Maria do Calvário. À chegada do régio senhor, cansado das durezas da viagem e do calor que fazia, um valido real encarregado do protocolo, lembrou a Madre Abadessa da necessidade de oferecer um refrigério ao real hóspede.
A monja, que há muito esperava em vão a ajuda do Paço para a sobrevivência do pobre convento, retorquiu que só havia uns "pães ralos", azeitonas e água; era o que havia e foi o que veio. O monarca comeu e apreciou.
De volta a Lisboa, despachou uma tença compensadora em benefício do convento e em agradecimento, a criatividade monástica retribuiu com esta doce alegoria conhecida por Pão de Rala, que fez as delícias do rei e também de todos nós.
Se visitar Évora não esqueça que é aqui que pode e deve provar esta maravilha. Apesar de feita em vários sítios, o expoente máximo é o produzido por Maria Ercília Zambujo na Pastelaria Conventual Pão de Rala situada na parte baixa da cidade, Rua de Cicioso. Ou pode fazê-lo assim:


Ingredientes:

20 Gemas
500 gr de Açúcar
3 dl de Água
500 gr de Amêndoa pelada e ralada
raspa de 1 Limão
1 chávena de (chá) de Doce de Chila
1 chávena de (chá) de Fios de Ovos
1 chávena de Chá) de Ovos Moles

Preparação:

Leve ao lume o açúcar com os 3 dl de água e deixe fazer ponto de fio (105ºC).
Junte a amêndoa ralada até obter um preparado espesso.
Retire do lume e junte as 20 gemas e a raspa do limão, mexendo muito bem.
Leve novamente a lume brando mexendo sempre para não queimar, e deixar espessar um pouco.
Retire do lume, deixe arrefecer e estenda a massa de maneira a formar uma rodela, no meio da qual se colocam fios de ovos e chila previamente misturada com os ovos moles.
Puxa-se a massa de forma a cobrir o recheio e a dar a forma de pão ao preparado.
Leva-se a forno brando ( 180-190ºC) em tabuleiro untado e forrado com papel vegetal durante 30/35 minutos. Deve ficar levemente tostado, como um pão.
Retira-se do tabuleiro só depois de frio, e polvilha-se com açúcar em pó, dando o aspecto de farinha.

Notas:

A Amêndoa a usar não é nem moída nem granulada, sim um pouco esmagada. Como à venda só existe normalmente uma variedade demasiado fina, quase como farinha, e outra em que há muitos grãos grossos, costumo comprar essa mais grossa, passo-a por uma peneira média e depois esmago os grãos mais grossos com um rolo de pedra, sobre a bancada. Dá uma consistência final perfeita.
Os fios de ovos são algo trabalhosos de fazer e necessitam de um instrumento específico, a fieira, que não é comum nas cozinhas caseiras. O Doce de Gila dá realmente muito trabalho e leva muito tempo a fazer, mas qualquer destes ingredientes se pode adquirir pronto e facilitar muitíssimo a confecção do Pão de Rala

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