sexta-feira, 7 de março de 2008

Frango Corado em Cama de Arroz

É difícil apercebermo-nos que o hoje omnipresente e popularíssimo frango era nos finais de 50, início de 60, uma iguaria pouco presente na mesa de todos os dias. Reservado para ocasiões festivas ou, pelo menos, especiais, era "jantar de Domingo" em minha casa.
Lembro-me de, com 5 ou 6 anos, portanto 1960, ir de propósito almoçar ao Restaurante Lira D'Ouro, na Rua de S. Mamede, uma extravagância então desconhecida dos portugueses, que dava pelo nome "difícil" de : Churrasco!
Claro que não eram bem estes bichinhos de aviário de consistencia mole e um nadinha nojenta, que se vendem hoje no supermercado: Um frango era um animal de cerca de 2kg, com carne firme e escura, que às vezes ainda tinha de ser depenado.
Para saborear a receita que hoje recordo, se não tem um fornecedor campestre, compre um frango "do campo", grande e gordo.
Claro que o vai ser dito para frango se pode aplicar a galinha, mas com ressalvas de qualidade ainda mais severas. Claro que não servem aquelas galinhas esquálidas e secas, que passaram a vida a pôr ovos e que são depois abatidas e vendidas em "saldo"


Ingredientes:

1 Frango do Campo com cerca de 2kg
2-3 chávenas de Arroz Carolino
1 ramito pequeno de Hortelã
Sal e Pimenta

Preparação:

Coza o frango em água temperada com sal e o ramito de Hortelã. A cozedura de um frango do campo de 2kg leva aproximadamente uma hora e deve ser feita em panela normal que permita que vá acompanhando a cozedura. (Se estiver a usar um frango de aviário, tudo estará acabado em 15-20 minutos, claro).
Quando o frango estiver cozido, o que se verifica espetando com um garfo para avaliar a textura da carne, (mas não a soltar-se dos ossos), retire-o com cuidado e reserve.
Meça então uma quantidade da água em que cozeu o frango, um pouco inferior ao dobro do volume de arroz que vai usar, digamos, 5 chávenas de água para 3 chávenas de arroz, tendo o cuidado de incluir gordura que fica a sobrenadar o líquido.
Coza o arroz neste líquido, em lume mínimo, retire do lume quando ainda houver algum líquido, cremoso, e verta o arroz num tabuleiro oval de barro, grés ou Pyrex. Alise.
Coloque então o frango com as costas para baixo, no centro do tabuleiro e faça uma ligeira pressão para que se enterre um pouquinho, 1 ou 2cm (fazer a cama).
Polvilhe o frango com um ´pozinho muito, muito ligeiro de Pimenta e leve a corar ao forno esperto. Está pronto quando a pele fica castanha dourada e totalmente estaladiça. Serve-se logo, a queimar.

Nota:

Claro que é obrigatório aproveitar a magnífica canja que sobra: passe por um pasador fino para reter algum fiapo de sangue cozido, coza nela algum arroz ou massa miúda do seu agrado, desfie a carne do pescoço e corte em pedacinhos fígado, coração, moela e, se gostar, os pés do frango. Sirva a ferver sobre uma ou duas folhas de Hortelã fresca.

2 comentários:

Marizé disse...

Lembro-me de quando visitava a minha avó e tinhamos para o almoço um galo que ainda essa manhã tinha cantado ao nascer do sol.

Bom fds

anna disse...

Gostei muito da narrativa, descrevendo a maneira de corar este franguinho... até fez crecer água na boca!